As coisas não acontecem por acaso… excepto este nosso novo blog!

Somos duas colegas ‘de números’ que partilham uma paixão comum: a escrita! Ambas gostamos de escrever e de ‘devorar’ livros como se não houvesse amanhã e, numa conversa que pensávamos ser inconsequente, desafiámo-nos uma à outra para escrever ‘Histórias a Quatro Mãos’…

O que nos propomos fazer é muito simples: vamos escrever histórias, em parceria improvável, testando os limites e a imaginação de cada uma. Cada uma de nós vai ser desafiada pela outra a dar seguimento a uma narrativa, cujo final será sempre um mistério, quer para as autoras, quer para os leitores.

Convidamos os nossos seguidores a irem opinando sobre o que vão lendo e dando sugestões.

Esperamos que seguir este blog seja uma experiência tão interessante quanto certamente será escrever tudo o que aqui irão ler!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

13 - Do Brasil

Ainda encostada à grande porta de madeira, Mara tocava nos seus lábios ainda húmidos, incrédula. Os que estava ela a fazer? A falta que sentia de Daniel estava verdadeiramente a afectá-la, pensou. Mas, curiosamente, com ou sem beijo, a verdade é que durante essa noite mal pensara em tristezas, ou experienciara sentimentos indesejados. Por outro lado, desejo e paz foram as sensações que prevaleceram. Sentiu-se confusa.
Mara estava sem sono para se ir deitar, então, resolveu pôr a correspondência em dia espreitando a recheada caixa de correio. Facturas e mais facturas para pagar e lá no meio um envelope com selos coloridos, para ela desconhecidos. Deteve-se nesse envelope virando-o de um lado para o outro assim que reconheceu a letra de Daniel no verso. Seu rosto iluminou-se na escuridão da casa. Descalçou-se à pressa deixando as sapatilhas espalhadas pelo chão, bem como as suas calças de ganga e casaco de capuz. Quase formavam uma perfeita linha desenhando o trajecto dela até ao quarto. Estendida sobre a cama rasgou efusivamente o envelope impaciente por ver o seu conteúdo.
Uma imagem que lhe era familiar via-se num dos lados do postal que segurava, o Pão de Açúcar, o Rio de Janeiro, localizou. Daniel tinha-lhe escrito, tinha-lhe enviado um postal apesar de andar tão ocupado com o novo projecto!
“ Mara, aqui o calor sente-se no ar, na água, na calçada, nas pessoas! Sinto como se já cá tivesse vivido antes, como se tivesse regressado a uma casa que na verdade não conheço. Ias gostar das praias, da agitação da cidade, do modo de vida descontraído e aberto…e se pensas que eu estava sempre a dançar (mesmo nas alturas menos próprias) havias de ver como é por aqui! Tendo vivido a fantástica experiência dos bailaricos uma só vez, ainda não me sinto capaz de te descrever o que vi, o que senti, os cheiros ou sabores. Atrevo-me a dizer que um escritor, aqueles que tu adoras, teria aqui um orgasmo sensorial. Bem, apesar da letra minúscula com que escrevo, já não sobra muito mais espaço neste postal. Queria dizer-te que, apesar de toda esta vida que me rodeia, não me sinto pleno sem ti a meu lado e senti na tua voz quando falamos que também não estás bem com esta distância. Por muito que me custe, vou sugerir-te que nos deixemos de falar por uns tempos. Penso que talvez nos seja menos doloroso. Talvez seja a atitude errada a tomar, egoísta, um pouco, idiota quem sabe, mas preciso disso neste momento. Será melhor para os dois, vais ver. Eu estou bem, Mara. Não te preocupes comigo e vive a tua vida ao máximo. Quando for a Londres contacto-te, se ainda me quiseres ver depois deste postal. Adoro-te. Daniel”

Mara ficou estática a reler aquele postal. Não chorou, não soluçou. Quando terminou Mara desatou a gritar com um Daniel imaginário. Quem era ele para pensar que podia desaparecer assim da vida dela? Que pensava ele que estava a fazer? A condensar a dor das saudades que sentiriam dia após dia todas numa noite, numa bomba gigante de dor? Não tinham já visto filmes suficientes para perceber que aquilo não iria funcionar?
Se já não tinha sono antes, depois de ler as palavras de Daniel decidira que não dormiria de todo naquela noite. Voltou a recolher a roupa espalhada pela casa, calçou-se e bateu estrondosamente a porta de madeira atrás de si.

3 comentários:

  1. Estamos em sintonia, Si! Já estou a antever na minha cabeça o que vai acontecer a seguir! Isto está a ser viciante!

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  2. E eu a pensar que te ia estragar os planos :)

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  3. Isso querias tu... vamos ver se eu não tos estrago a ti... ;-)

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