As coisas não acontecem por acaso… excepto este nosso novo blog!

Somos duas colegas ‘de números’ que partilham uma paixão comum: a escrita! Ambas gostamos de escrever e de ‘devorar’ livros como se não houvesse amanhã e, numa conversa que pensávamos ser inconsequente, desafiámo-nos uma à outra para escrever ‘Histórias a Quatro Mãos’…

O que nos propomos fazer é muito simples: vamos escrever histórias, em parceria improvável, testando os limites e a imaginação de cada uma. Cada uma de nós vai ser desafiada pela outra a dar seguimento a uma narrativa, cujo final será sempre um mistério, quer para as autoras, quer para os leitores.

Convidamos os nossos seguidores a irem opinando sobre o que vão lendo e dando sugestões.

Esperamos que seguir este blog seja uma experiência tão interessante quanto certamente será escrever tudo o que aqui irão ler!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

14 - Uma noite longa... e o dia seguinte...

Sentindo-se revitalizada pelo seu longo passeio nocturno, Mara entrou em casa já a madrugada ia avançada, para se preparar para o seu dia de trabalho. Há anos que ela tinha este hábito – sempre que precisava de pensar, ou quando estava incomodada com alguma coisa, caminhava sem parar e sem destino, até que o cansaço físico conseguisse a proeza da dormência dos seus pensamentos e, de alguma forma, também dos seus sentimentos. E resultava sempre. Apesar de cansada, quando entrou em casa, sentia-se menos aborrecida com Daniel e decidida a seguir em frente na sua nova vida sem ele. Se era o que ele queria, se ele a estava a dispensar, era porque estava decidido a viver a vida dele e a esquecê-la, e ela não queria de forma nenhuma ser a parte encalhada eternamente à espera que Daniel viesse a correr para os seus braços, se declarasse por fim e admitisse que a amizade que os ligava desde sempre era na verdade mais do que isso. Que ideia estupidamente romântica e absurda! Se isso não tinha acontecido até à data, agora com Daniel longe, a probabilidade de acontecer era ínfima. Mara sentia-se ridícula ao acalentar secretamente essa esperança e estava terminantemente decidida a seguir em frente. Ou pelo menos a tentar. E a baralhar ainda mais a sua confusa cabeça, estava John. Durante o seu passeio nocturno e a sua introspecção, várias vezes lhe vieram à cabeça ‘flashes’ da aula de salsa, das gargalhadas de John e, raios, daquele beijo tão inquietante e estranho.
Mara tinha naquela manhã uma reunião ao pequeno-almoço, antes de ir para o escritório, com um autor que estava prestes a ver a sua primeira obra publicada pela Booky, em que Mara lhe iria apresentar as suas propostas para a composição gráfica da capa do livro. Resolveu então ser prática, tomar um duche rápido, vestir-se e encaminhar-se para o Starbucks, em Regent Street, onde tinham combinado encontrar-se.
A manhã passou rapidamente, e a reunião correu bem, tendo Mara já chegado perto da hora de almoço ao escritório, onde na recepção tinha uma Sarah muito sorridente à sua espera. Sarah trabalhava na editora desde o dia, há quase um ano atrás,  em que as portas da Booky se abriram pela primeira vez. Era uma loira, com feições tipicamente inglesas, muito extrovertida, divertida e curiosa. A sua vida era uma autêntica avalanche sentimental e vibrava com as histórias dos outros. Mara sabia que ela tinha uma paixão secreta por Daniel.
- Mara! – exclamou Sarah assim que a viu – Nem vais acreditar se eu te contar. Por isso nem te vou contar, vou deixar-te simplesmente entrar no teu gabinete e ver com os teus próprios olhos! Mas antes de ires, tenho recados para ti, preciso que me assines uns papéis e tenho imensa correspondência para reveres. Depois precisamos de ver a tua agenda, porque aparentemente vais ter que viajar para a semana que vem… o John disse-me que falasse contigo e víssemos juntas que dias mais te convêm… mas é melhor não deixarmos isto para mais tarde, senão vai ser difícil marcar hotel e os voos…
Mara respirou fundo. Às vezes era extremamente cansativa toda aquela energia de Sarah, especialmente quando a noite anterior fora longa e os efeitos da privação de sono se faziam já sentir. Mas não ficou indiferente ao nome de John no meio do discurso de Sarah. Era estranho como o nome dele lhe provocava agora um calafrio e uma sensação diferente. E era mais curioso ainda, porque desde que Anna lhe tinha apresentado John, que o nome dele era uma presença normal no seu dia-a-dia.
- Ah! E quase me esquecia… a Anna ligou. Aparentemente tem urgência em falar contigo, diz que é mesmo MUITO importante… - informou Sarah, interrompendo os pensamentos de Mara.
- O bebé! É alguma coisa com o bebé!? – perguntou Mara subitamente alarmada com a urgência de Anna em falar com ela, pegando de imediato no seu telemóvel e vendo que tinha 5 chamadas não atendidas de Anna naquela manhã.
- Não é nada com o bebé – descansou-a Sarah, pegando num bloco de notas procurando atabalhoadamente uma determinada folha e ficando logo muito corada – mas ela pediu para te transmitir o recado, e vou citá-la palavra por palavra, ‘Aquela ingrata que me ligue com urgência e que seja a primeira coisa que ela faça assim que sentar o rabo dela na cadeira!’
Mara sorriu. Era tipicamente da Anna deixar mensagens destas a embaraçar mais os mensageiros do que propriamente a destinatária. Mara constatou que deveria ser uma típica ‘não urgência urgente’ de Anna, e passou a meia hora seguinte na recepção a assinar papéis e a despachar correio.
- A propósito, o John deixou recado a dizer que estará ausente o resto do dia e que provavelmente só passará pelo escritório à noite para despachar alguma papelada e um ou outro assunto urgente. – mencionou Sarah, provocando um calafrio imediato em Mara.
- OK. Obrigada. O que preciso mesmo agora é de um café e de ir para o meu gabinete. Tenho imenso trabalho hoje, que quero despachar até ao final da tarde. Não quero sair muito tarde. Podemos ver a questão da viagem mais logo? A propósito… que raio de viagem é essa? Ele não comentou nada comigo… - disse Mara evitando pronunciar em voz alta o nome de John.
- Ah! Quase me esquecia! – desabafou Sarah, procurando desesperadamente alguma coisa no meio da sua papelada em cima da mesa – Eu prometo que assim que encontrar os documentos que o John me deixou eu levo-os ao teu gabinete… não quero perder a tua cara quando entrares no teu gabinete! – cada vez que falava na sala de Mara, Sarah dava risadinhas nervosas e entusiasmadas – Mas o John mencionou uma conferência em Nova Iorque para a semana e disse que se estivesses de acordo, ele fazia questão que tu fosses…
Mara encaminhou-se então para o seu gabinete, passando pela copa para preparar um café e, assim que abriu a porta, estacou. Era um cenário inesperado: cada recanto do seu pequeno gabinete estava coberto por flores – flores de todas as cores e géneros. Rosas, túlipas, lírios, margaridas… parecia que tinha acabado de abrir uma florista naquele local! Mara conseguia ouvir as risadinhas de Sarah atrás, mas não tinha discernimento para reagir. Em cima da secretária conseguia distinguir um pequeno envelope vermelho, com o nome dela. Aproximou-se da secretária e, de mãos trémulas, pegou no envelope e abriu-o.

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