As coisas não acontecem por acaso… excepto este nosso novo blog!

Somos duas colegas ‘de números’ que partilham uma paixão comum: a escrita! Ambas gostamos de escrever e de ‘devorar’ livros como se não houvesse amanhã e, numa conversa que pensávamos ser inconsequente, desafiámo-nos uma à outra para escrever ‘Histórias a Quatro Mãos’…

O que nos propomos fazer é muito simples: vamos escrever histórias, em parceria improvável, testando os limites e a imaginação de cada uma. Cada uma de nós vai ser desafiada pela outra a dar seguimento a uma narrativa, cujo final será sempre um mistério, quer para as autoras, quer para os leitores.

Convidamos os nossos seguidores a irem opinando sobre o que vão lendo e dando sugestões.

Esperamos que seguir este blog seja uma experiência tão interessante quanto certamente será escrever tudo o que aqui irão ler!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

11 - Jantar a Dois

A água quente do chuveiro escorria pelo rosto rosado de Mara que, de olhos fechados, se entregava a um emaranhado de pensamentos confusos. Daniel, as saudades, onde estaria? John, a dança, o jantar, que surpresa! Vestiu as confortáveis calças de ganga  e casaco lilás com capuz em gestos automáticos. Não estava vestida para jantar fora!
Ao vê-la chegar à entrada do estúdio de cabelos soltos e molhados com olhos preguiçosos, John sentiu os seus sentimentos semi-secretos por Mara fervilhar. Apetecia-lhe envolvê-la num abraço, sentir o cheiro doce do seu champô, a sua pele macia, imaginava. Mas não o fez. Recebeu-a com um sorriso pateta e caminharam lado a lado pela rua iluminada por lampiões e um sem número de néons.
-  John, desculpa mas eu não estou vestida para ir jantar fora. Estava a contar ir para casa. A não ser que queiras ir à Subway – sugeriu Mara torcendo o nariz.
John, não lhe agradando a ideia de levar Mara a jantar a um sitio tão pouco especial, propôs irem buscar comida a um take-away e jantarem num banco de jardim no parque a caminho de casa dela. Apesar de esse parque lhe lembrar as suas lágrimas, a primeira noite sem Daniel por perto, ela aceitou.
Relembraram juntos a aula de salsa rindo das peripécias dos pares que os rodearam. A noite ia avançando e Mara surpreendeu-se não se ter lembrado das lágrimas ou da solidão. Deixou-se levar pelas gargalhadas partilhadas com o amigo. A certo ponto, já o jantar ia a meio do processo de digestão, estenderam-se na relva lado a lado ignorando os olhares de censura das pessoas que por ali passavam.
- Como é difícil ver as estrelas daqui da cidade! – desabafou Mara num suspiro – Tenho a impressão de que já não vejo o céu, as estrelas ou o luar em condições à mais de uma década. Em Portugal, no Alentejo, onde eu morava, o céu parecia maior, mais brilhante.
- E tens saudades de casa?
- Não! Quer dizer…estou bem aqui e acho que já não me adaptava se voltasse. Mas há coisas de que sinto falta, sabes!
- Das estrelas e do luar? – perguntou John observando o perfil delicado de Mara, torcendo para que ela não notasse e o deixasse fitá-la a noite toda.
Mas Mara teve aquela sensação estranha de quando estamos a ser observados e rodou o rosto fixando John nos olhos. Ele não se intimidou e continuou a olhá-la em silêncio. Seria aquele o momento de lhe revelar, num simples gesto, tocando os seus lábios com os seus, o que lhe ia no coração? Estavam tão próximos, sozinhos sobre a relva daquele jardim, debaixo de um céu algures estrelado…Não teve tempo. Mara sentou-se repentinamente cortando o olhar que partilharam.
- Devíamos ir andando. Amanhã é dia de trabalho.
- Eu acompanho-te a casa – disse John em tom ao mesmo tempo meigo e autoritário, arrependido do momento que deixou passar.
A casa azul com porta alta de madeira  onde Mara vivia estava a uns escassos metros. John sentia o tempo com ela fugir-lhe. Mas não iria desistir tão facilmente. Abafou as palavras de Anna julgando-o que ecoaram na sua cabeça e decidiu-se.
- Boa noite John. Até amanhã. – disse Mara sentindo-se ausente, cansada, por fim.
John não lhe respondeu de imediato. Admirou Mara e seu cabelo encantadoramente desgrenhado com pedaços verdes de relva pendurados. Quebrou esse olhar com um leve beijo que inesperadamente Mara lhe devolveu. Um beijo que terminou tão espontaneamente como começou. Mara entrou em casa fechando a porta sem olhar para trás. John desceu os degraus da entrada da casa azul e percorreu as ruas da cidade sorrindo e com um adocicado sabor clandestino nos lábios. O seu plano teria de funcionar!

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